sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

MILTEFORAN - Fim da matança: medicamento que trata a leishmaniose canina é lançado no Brasil


No último dia 24, o lançamento do Milteforan – medicamento que trata a leishmaniose visceral canina – na cidade de Araçatuba (SP), marcou o fim de uma longa batalha no Brasil. Ao contrário dos países da Europa, por aqui os cães sempre foram tidos como os vilões e não o mosquito-palha, responsável pela transmissão da doença. A grande discussão sempre foi o extermínio dos animais infectados e não o seu tratamento. Tutores que desejavam tratar a doença, recorriam a medicamentos importados ilegalmente, tendo em vista que eram proibidos no país. A grande novidade é que, a partir de agora, os tutores têm o direito de tratar os seus animais com droga disponível em âmbito nacional.
“Os veterinários não precisam mais tratar os animais escondido, de forma clandestina e nem brigar judicialmente para isso. Teremos liberdade de prescrição”, disse a veterinária Romeika Reis Lima, da Canis & Catus Especialidades. Isso porque o grupo de pesquisas da Brasilleish, liderado pelos médicos veterinários Fábio dos Santos Nogueira e Ingrid Menz, com o apoio do laboratório Virbac, conseguiu a aprovação do Ministério da Saúde e da Agricultura para a comercialização do Milteforan. O medicamento foi testado no Hospital Veterinário Mundo Animal, em Andradina (SP), com resultados eficazes. “A decisão representa um marco na medicina veterinária brasileira. Foram 18 anos da minha vida profissional com dedicação exclusiva à tentativa de dar qualidade de vida aos animais contaminados”, disse Fábio.
O assassinato de animais sempre foi contestado por especialistas que garantem que a matança de cães nunca contribuiu para diminuir o índice de contágio da leishmaniose. E afirmam que, dos 88 países do mundo onde a doença é endêmica, o Brasil é o único que sempre utilizou a morte dos cães como instrumento de saúde pública. “A leishmaniose visceral tem controle, tem tratamento eficaz e, portanto, não é necessário fazer a ‘eutanásia’ do animal, exceto em casos específicos”, afirma o veterinário Leonardo Maciel, da Clínica Veterinária Animal Center. O veterinário Manfredo Werkhauser, da Clínica São Francisco de Assis, é um dos fundadores da Brasilleish, e comemora. “É o que vai possibilitar o tratamento de inúmeros animais contaminados e evitar a eutanásia”.
Previna-se
Leishmaniose – também conhecida como calazar, a contaminação em seres humanos e animais ocorre através da picada da fêmea do mosquito Lutzomyia longipalpis, mais conhecido como mosquito-palha ou birigui
Sintomas no ser humano – febre prolongada, perda de peso, falta de apetite e aumento do fígado e baço. Se não tratada a tempo, a leishmaniose visceral tem alto índice de mortalidade em pacientes imunodeficientes portadores de doenças crônicas
Sintomas no cão – lesões de pele, perda de peso, descamações, crescimento exagerado das unhas e dificuldade de locomoção. No estágio avançado, o mal atinge fígado, baço e rins, levando o animal ao óbito
Prevenção da doença
Fazer a retirada de qualquer tipo de material orgânico como folhas, fezes de animais, entulhos e lixo, onde o mosquito possa se reproduzir. A borrifação química é fundamental em áreas endêmicas
Prevenção nos cães
Uso de repelentes, coleira própria contra a leishmaniose, vacina específica, higienização do animal e do ambiente.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

CAMPO GRANDE - Defensor de animais com leishmaniose assume CCZ e quer fim do 'descarte'


Pela primeira vez, o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses de Campo Grande) deve passar por mudanças na política de recolhimento e doação de bichos. O veterinário e professor da universidade federal de Mato Grosso do Sul, André Luis Soares da Fonseca, defensor do tratamento em cães com leishmaniose, assume o órgão e quer incentivar a adoção para acabar com o 'descarte' de cães e gatos.
Como profissional, André fez duras críticas à atuação do CCZ na Capital, principalmente no tocante a animais infectados pela Leishmaniose.  Em virtude de seu posicionamento na defesa de animais infectados, chegou a realizar atendimentos gratuitos e acabou na mira do Conselho de Medicina Veterinária de Mato Grosso do Sul em 2015. O caso ainda corre na justiça, saiba mais aqui.
Ciente das necessidades do único centro público a abrigar animais na Capital, o veterinário contou que já há projetos definidos para melhorar o controle, como a 'carrocinha do bem' para recolher  animais desamparados, sobretudo cães e gatos, para serem castrados. "Por seu caráter lúgubre, a carrocinha costumeiramente é mal-vista pela população, percepção que deve ser mudada", disse.
A ideia é consequência, segundo André, do número alto de animais sacrificados pelo CCZ e resultado da ausência de critérios para o procedimento: São 18 mil por ano, aproximadamente, com base em relatório do ano de 2013 – Deste ano em diante não se sabe se a quantidade de mortes.

Hoje em dia a castração é oferecida somente uma vez ao mês, em todo dia 20 ou no primeiro dia útil seguido, e são oferecidas poucas vagas. Em alguns casos a espera passa de três meses. “O impacto dessa política é que em 3 ou 4 anos, essa população terá reduzido para 80 mil por causa da castração”, disse.
“É ir em um bairro como o Dom Antônio Barbosa, por exemplo, recolher animais, castrar e devolver à comunidade, não levar para matar. Falta consciência nessa pessoa que às vezes não tem nem portão em casa, mas tem um animal, e o nosso papel é esclarecer, será uma função humanizada. A longo prazo isso vai reduzir os problemas com a população animal”, explicou.
O grande volume de eutanásias, de acordo com André, também é consequência da ausência de controle da população animal, são 162 mil entre cães e gatos. A meta é reduzir para menos de 1 mil.
Em relação a Leishmaniose, o veterinário declarou que um dos problemas a serem enfrentados é a falta do real conhecimento sobre o assunto, e o descarte de animais por causa da doença será freado. “A pessoa vai levar o animal lá para entregar, mas a gente vai orientar. Estar positivo para a doença não quer dizer que o cão oferece risco à vida humana. Ele pode ser tratado e nós vamos orientar”, declarou.
A eutanásia em animais com leishmaniose deixou de ser usada para o controle da doença, e passou a ser proibida em Campo Grande por decisão do Tribunal Federal de Justiça. A mudança ocorreu uma ONG conseguir uma liminar que obrigava o CCZ a devolver o cão Scooby, que tinha sido recolhido e seria sacrificado porque tinha leishmaniose. O cão ficou famoso após ser salvo de uma eutanásia; Ele foi amarrado em uma moto e arrastado pelo dono até o centro.
Abrir o CCZ para visitação e adoção permanente
A proposta é instalar uma campanha permanente de adoção, enquanto hoje os animais só podem ser adotados entre às 17 e 19 horas. O acolhimento passará a ser autorizado durante todo o dia, a seguir o exemplo do que já existe em outras cidades. “Poderão visitar o centro, levar os animais que estão no CCZ para passear. A ideia é ajudar na sociabilização e adaptação dos cães e gatos que estão abrigados no Centro, contou.

Pronto Atendimento
Apesar das promessas passadas, Campo Grande ainda não tem um hospital veterinário. A ideia é instalar um pronto atendimento que sirva de raio-x para o problema, assim como funciona as unidades básicas de saúde, por exemplo. Hoje são apenas 4 veterinários no local e o quadro deve ser ampliado para 8.
Em 2012, o então prefeito Nelson Trad Filho chegou a lançar o projeto de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Veterinária, mas a ideia nunca saiu do papel.

O Centro de Controle de Zoonoses fica na Avenida Senador Filinto Müller, 1601 - Vila Ipiranga, ao lado do campus da UFMS.

Com informações MIDIAMAX